quinta-feira, fevereiro 05, 2015



Dar sonho à realidade.
O Sonho e a realidade misturam-se e interagem, por vezes energeticamente, nas nossas construções mentais. No sonho vemos, falamos, caminhamos, trabalhamos. Sobretudo quando vivido intensamente o dia prolonga-se na noite, formando com ele uma indivisa unidade de tempo e de sentido.
Assim, o nosso compromisso com a missão, se tomado a cem por cento, mobiliza todo o nosso ser, exigindo tanto da vontade acordada como da fantasia sonhadora. Quando a vida concretiza o que imaginamos e o sonho prolonga o que vivemos, somos mais exigentes connosco e com o mundo.
Quando vivemos intensamente a missão, o sonho pode ser a visão clara do futuro. Pelo sonho elevamo-nos mais alto do que os outros, vemos muito mais além da próxima curva, escolhemos a direção mais correta e o caminho mais azado. Na vida sem sonho os nossos pés como que se colam ao chão, tolhendo-nos a capacidade de ver outros horizontes; no sonho, sublimamos a realidade muito mais além do estar “aqui e agora”.

Deitemo-nos para sonhar a vida, levantando-nos para viver o sonho. Este é o quiasmo de sonho e realidade.
Quem sonha não se arrasta pela vida, não sente o cansaço, não se queda na amargura, não perde a esperança, não desiste com as dificuldades, não se refugia no seu pequeno mundo. Ma linguagem de S. Paulo, nada inveja, tudo crê, tudo suporta, tudo perdoa. Quem sonha faz tudo para atingir a meta “claramente vista”. Para sonhar assim, porém tem de se ter a virtude teologal da esperança, pois só esta permite rasgar o tempo monótono do quotidiano e abrir o horizonte do futuro. Ora, só Deus é o “futuro absoluto”, à luz do qual a vida é vivida como passagem. A esperança, animada pela fé, antecipa o amanhã definitivo, no qual só a caridade permanece.
Quando se crê verdadeiramente que o “futuro a Deus pertence”, a esperança acompanha-nos nos caminhos da vida. Segundo a dialética teológica do “já” e do “ainda não”, estamos a construir a casa onde já habitamos, a compor a música que já ouvimos, a pintar o quadro que já apreciamos, a sonhar a vida que já vivemos. Deste modo, torna-se fácil antever os erros, antecipar os problemas, potenciar o sucesso. O sonho dá-nos o esboço do projeto, a maqueta da obra, os tópicos do discurso.

Mergulhemos a vida no sonho e erguemo-nos do sonho com mais vida, com mais esperança, com as mãos cheias de um presente antecipador do futuro. Só o dinamismo da esperança acelera o ritmo, ativa o otimismo, garante o sucesso. Ninguém consegue travar a esperança, “condição de possibilidade” de toda a ação.
Para realizar o sonho, D. Bosco soube sonhar a vida. A força com que viveu a missão, um dom de “natureza e graça” preenchia-lhe os dias e prolongava-se nas noites, potenciava-lhe a imaginação, reforçava-lhe a esperança. A presença de Maria foi tão intensa na sua vida como nos seus sonhos. Realizou o sonho porque soube sonhar a realidade. Dom. Bosco dormia pouco, mas sonhava muito. Foi Ela quem tudo fez porque foi Ela quem tudo sonhou!
Só conseguimos “dar vida ao sonho” se formos capazes de sonhar a vida. E, porque a capacidade de sonhar transforma a vida, a assunção da missão devolve à vida a capacidade de sonhar.LMC

Texto tirado do Boletim salesiano, autoria Orlando Camacho




Sem comentários: