quinta-feira, abril 07, 2016



Abraão, o Nosso Pai na Fé

A uma distancia de quase quatro mil anos, e atendendo aos géneros literários em jogo, é impossível analisar e contextualizar a saga bíblica dos patriarcas com rigor próprio da historiografia científica. O protopatriarca Abraão é uma das figuras mais marcantes da tradição judaica, cristã e muçulmana. Mais que a verdade histórica, o que aqui nos interessa é a força simbólica e o peso teológico deste vulto maior da fé monoteísta.
Abraão terá aprendido muito com a lição do dilúvio, símbolo de purificação e de refundação. A concentração da sua fé num só Deus projetou-o para o abandono e uma confiança totais até então sem paralelo. O nascimento do primogénito, apesar de Sara ser já de idade avançada, veio reforçar ainda mais a sua fé. Abraão tinha absoluta confiança naquele em quem acreditava, sentia-se especialmente amado por aquele a quem amava, sabia-se favorecido por aquele a quem tudo entregava. Por isso, respondendo sem delongas à voz de Deus, dispôs-se a sacrificar o seu único filho, sabendo que tal atitude acabaria com a sua descendência, em total contradição com o que o mesmo Deus lhe garantira. A última palavra a vencer, porém, é a de Deus, que impede o sacrifício cruento de Isaac.

Há, neste gesto supremo, tão mal compreendido pelos racionalistas, uma dupla lição. Primeiro, a obediência de Abraão a Deus é incondicional, sem discussões e argumentos, sem reservas mental, contra todas as evidências racionais. Este é, na proto-história de Israel, o primeiro momento absolutamente religiosa, para além da própria ética. Este gesto paradoxal de fé como obediência perfeita está na continuação da mesma atitude que manifestara quando partiu de Ur, na Caldeia, para uma terra ignota, “sem saber para onde ia”. Segundo, com esta lição o autor do génesis quer mostrar que Deus não suporta o holocausto de pessoas, contrariamente a certas práticas em uso. Sendo homem imagem e semelhança de Deus, a não imolação humana é um imperativo absoluto – do ponto de vista ético e religioso. Muitos, à época, não conseguiram intuir que Deus prefere a misericórdia ao sacrifício. Ora, esta mudança cultural foi um passo decisivo na percepção de  que o amor de deus é totalmente gratuito. A humanação de Deus em Jesus será o ápice da dignificação e do respeito pelo homem enquanto imagem e semelhança de Deus.
O Deus de Abraão é um Deus que ama o povo de um modo singular, elegendo-o antes de o formar (“povo das promessas”).

A aliança firmada nesta proto-histórioa de Israel prolonga, à sua maneira, as alianças celebradas com os primeiros pais da Humanidade e com Noé, e antecipa todas as subsequentes (Isaac, Jacob, Moisés, profetas…), cumprindo-se cabal e definitivamente em Jesus Cristo, numa Nova e Eterna Aliança.

À descendência de Abraão segundo a carne sucede a descendência segundo o Espírito, a que nos orgulhamos de pertencer por pura graça de Deus. Em Abraão, porém, vem já sinalizado o amor de predileção de Deus para com o povo de Israel, de Deus para com os cristãos.

Poderíamos até imaginar que, se não fosse a inquebrantável fé de Abraão, o Senhor poderia ter-se servido de outro povo par a+reparar a revelação definitiva.

No Antigo e no Novo Testamento tudo começa pela fé. Ela transporta montanhas e faz nascer das pedras filhos de Abraão. É ela que nos salva. Com ela sabemos como viver o presente, pois sabemos de onde viemos e para onde vamos.

A fé de Abraão ensina-nos que quem acredita, tudo consegue, e quem ama, tudo dá e tudo recebe. E como Deus, nos ama! Se aceitarmos o amor pessoal e criador de Deus, teremos capacidade de trabalhar sem desfalecer, de ser mais, de amar até ao limite.
O caminho para a terra prometida, terra onde “corre leite e mel”, nunca é tarefa fácil. A promessa, ao povo escolhido, dos bens simbolizados por um aterra fértil não significa a unidade dos que cultivam a fé no Deus único. Na verdade, judeus e cristãos e muçulmanos reivindicam uma ligação ancestral a Abraão – uma ligação de sangue para os judeus e muçulmanos, uma ligação espiritual no caso dos cristãos.
Como é possível acreditar no Deus e pensar que o Deus único e transcendente em que os outros acreditam não é também o nosso? Como é possível acreditar que o Deus único em que acreditamos não é também o deles?
Se Deus é único, aterra é pertença de todos e por todos deve ser respeitada, cuidada e amada. BI Salesianos








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